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Racismo no futebol sul-africano?

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Rodrigo Durão Coelho | 2009-06-15, 10:07

Existe um limite para o volume de som que uma torcida pode produzir dentro de um estádio. Os quase 50 mil torcedores que neste domingo foram ao Ellis Park de Joanesburgo para ver a partida de estreia da Copa das Confederações entre África do Sul e Iraque pareciam não saber disso.

Eles se esforçavam para ampliar as possibilidades sonoras dos cornetões, fazendo-os rasgar o ar, misturando seu som com o dos gritos e cantos, embalados por tambores de graves imensos que faziam tremer o chão.
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E aplaudiam. Sem parar.

A torcida vibrava com a menor dividida, a bola defendida ou qualquer tentativa de ataque, por mais enfadonha que fosse. Vibrava e dava força a tudo e a todos. Menos para Matthew Booth.

Toda vez que o (neste jogo muito competente) zagueiro alto, branco e careca tocava na bola, se escutava um 'buuuuu' rasante que parecia jogar momentaneamente água gelada na fervura que foi o Ellis Park neste domingo.

Um contraste sonoro muito maior do que quando a oposição iraquiana, fosse ela sunita, xiita ou curda, ensaiava algum perigo.

Ou quando qualquer outro Bafana Bafana furava pifiamente ou enviava um daqueles passes laterais infantis que permitem contra-ataque.

O fato de ele ser o único branco do time - e aí pense em branco total, uma espécie de cover do vocalista do Midnight Oil, e ter levado o tratamento do "buuuuu" logo na primeira vez que tocou na bola, me fez pensar em racismo.

Ainda no primeiro tempo, pesquisando na internet, descobri que Booth havia declarado, em 2003, que "existe racismo na minha África do Sul, na Inglaterra e em muitos outros países. Ele precisa ser combatido". A declaração foi feita quando ele participou de um amistoso internacional contra a discriminação racial.

No intervalo do jogo, pesquisei mais e vi que ele foi um dos nomes mais discutidos entre os convocados por Joel Santana.

O motivo é que o quarto-zagueiro, aos 32 anos e uma década de seleção nacional, seria lento demais.

Ante a indignada imprensa local, Joel teve que justificar sua seleção, em detrimento do que é considerado um melhor defensor, Nasief Morris, do Recreativo Huelva da Espanha, pelo fato de Booth ser alto. 'A maior fraqueza defensiva da África do Sul são as bolas aéreas', disse o treinador brasileiro para os jornalistas do país.

Mas curiosamente, falando com colegas da imprensa local ainda no intervalo, ouvi a explicação de que o próprio nome do rapaz, quando dito de forma alongada (Booooooooth), seria uma onomatopéia de vaia (soa como um longo 'Buuuu'). E que esta inusitada forma de reconhecimento seria, de fato, um incentivo carinhoso ao jogador.

Precisei escutar isso de pelo menos quatro sul-africanos para ficar convencido.

Porque um país com uma recente e complexa bagagem histórica de racismo, como é a África do Sul, não pode ser deixada em paz para saudar um ídolo com uma vaia disfarçada, sem que questões sociológicas sejam levantadas quando o ídolo calha de ser o único branco do time.

Armadilhas interessantes desse futebol globalizado, cuja compreensão à vezes tropeça em curiosas brincadeiras locais.

Quanto ao jogo em si, um impotente 0 x 0, destaque para o tremendo, inesquecível e histórico azar do atacante Bernand Parker que, em um lance de rara plasticidade anatômica, conseguiu evitar um gol do próprio time usando o traseiro.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 01:35 PM em 15 jun 2009, Marcus Vinicius Pinto Schtruk escreveu:

    Será que a população da África do Sul não tirou sua lição depois de tantos anos de "apartheid"?

    Quer dizer que a regra anti-racismo só vale em via de mão única?

    Espero sinceramente que a FIFA se pronuncie a respeito, exatamente como vem fazendo na Europa quando afro-descendentes são vítimas de racismo.

    O futebol deve promover a integração de todos, não havendo espaço para preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

  • 2. à 06:29 PM em 15 jun 2009, Maíra Kubík Mano escreveu:

    Muito bom o post, Rodrigo. Com tamanho histórico de repressão e apartheid, é de se imaginar que um jogador sofra esse tipo de discriminação. Afinal, o preconceito não escolhe lado. Espero que o "buuu" realmente seja uma forma elogiosa de tratá-lo.

  • 3. à 03:50 PM em 16 jun 2009, ôⲹ escreveu:

    Acho que existe um misto de racismo e elogio nas palavras dos torcedores. Os gritos misturam vaias e ovações. Racismo não termina e nós brasileiros sabemos disso.
    Ser o único branco da equipe não deve ser fácil e ficar sempre na dúvida sem saber se estão discriminando ou incentivando é duro. Quando ele fizer um gol é que vamos saber realmente o que o torcedor está sentindo. Nessa hora não vai dar para esconder os sentimentos.

  • 4. à 10:34 PM em 16 jun 2009, Rodrigo Durão Coelho escreveu:

    Calma, Marcus. Era realmente uma forma de incentivo. O Boooooth é realmente ídolo da galera. No post, eu quis mostrar mesmo que a minha ignorância pode levar à conclusões erradas. Não era racismo.

  • 5. à 08:49 PM em 17 jun 2009, Thiago Marinho escreveu:

    Como tem pessoas desinformadas e opinam sem saber os fatos, por isso que o Brasil é o país da piada pronta e dos "críticos de plantão".

    A torcida dos Bafana-Bafana não vaia quando o zagueirão Matthew Booth toca na bola, simplismente o idolatram e gritam "Boooth" que parece realmente uma vaia, mas não é !

    Procurem se informar antes de opinar e descer a lenha em um assunto.

    Abs !

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