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Os mistérios do futebol científico

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Ricardo Acampora | 2010-09-02, 14:40

Fiquei surpreso ao ler a notícia de que um grupo de físicos franceses concluiu que o gol de falta marcado pelo lateral Roberto Carlos no empate de 1 a 1 da seleção brasileira com a França em 1997 não foi sem querer e portanto, pode ser repetido.

Lembram do gol? aquele em que a bola descreveu uma curva incrível, contornando a barreira pelo lado, e quando parecia que ia para fora, o efeito a levou direto para as redes deixando boquiabertos o goleiro francês Fabian Barthez e todo o mundo que assistia ao jogo.

Um gol sensacional de um craque que aperfeiçoou como poucos a arte de bater na bola.

Não sei quanto tempo destes 13 anos, os cientistas franceses dedicaram ao estudo da trajetória da bola de Roberto Carlos, debruçados em fórmulas e no desenvolvimento de modelos matemáticos que simulam os movimentos descritos pela redonda.

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De todo modo, para mim parece que perderam seu tempo. Bastava perguntar para qualquer garoto que acompanha futebol no Brasil e a resposta viria imediatamente: "É claro que ele teve a intenção de fazer o que fez!"

Aliás, não é de hoje que a criatividade e o alto nível de aperfeiçoamento técnico do jogador brasileiro surpreende aqui na Europa.

Ou melhor dizendo ... não é de hoje que a Europa mostra desconhecer a capacidade dos jogadores sul-americanos em lidar com a bola como verdadeiros equilibristas.

Poucos comentaristas que ouvi aqui em Londres acharam que Maicon teve a intenção de fazer aquele gol sem ângulo contra a Coreia do Norte na Copa da África do Sul. A grande maioria acha que foi um fluke, como chamam o gol de sorte, sem querer.

Até hoje vários jornalistas esportivos britânicos acham que Ronaldinho Gaúcho errou o cruzamento na cobrança de falta que acabou encobrindo o goleiro David Seaman na vitória do Brasil por 2 a 1 sobre a Inglaterra na Copa de 2002.

Assim fazendo, consagram a jogada errada, o gol por acaso e deixam de apreciar a arte do Gaúcho e até de aprender com ela.

Se garotos ingleses passarem a acreditar que o gol foi por acaso nem sequer tentarão imitar o Ronaldinho desenvolvendo o controle das cobranças de falta.

Ficarão aperfeiçoando apenas o cruzamento careta e no final da contas quem sofre é o futebol inglês.

Qualquer lateral da seleção inglesa cruza tão bem ou melhor do que os laterais brasileiros. Mas nenhum dos últimos cinquenta laterais usados no English Team é capaz de ao menos imaginar a possibilidade de bater de curva na bola, com efeito, malícia e arte.

Nunca foi visto um lateral inglês fazer um gol como o de Nelinho contra a Itália na Copa de 78, com a bola descrevendo um zigue-zague à frente do goleiro Dino Zoff antes de entrar no ângulo.

Ou será que os físicos franceses conseguiriam explicar os super gols feitos pelo Josimar contra Irlanda e Polônia em 86, no México?

Ou o gol do Branco de falta em 94, o terceiro do Brasil contra a Holanda na vitória brasileira de 3 a 2 na Copa de 94, nos Estados Unidos?

Lembro de ter ouvido o Rivelino explicar a um repórter o segredo da batida de trivela que levava a bola a descrever uma curva acentuada: "É só bater com os três dedos de fora." e acentuando o sotaque paulista-italiano ... "de rôsca".

Quer explicação melhor? Depois de ouvir o Rivelino dá para pensar ... quem é que precisa de um físico para explicar um gol de curva?

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 10:12 PM em 02 set 2010, Angenor Pouca Touca escreveu:

    Oh, pode ser repetido. Claro! Já vi um montão de gols desse no futebol de várzea, meu amigo. Certa vez o Tico-Tico, menino que vevi aqui na Vila, fez um gol bem mais bonito. A diferença é que antes de soltar o canhonaço, ele chapelou treze pessoas... Que estilo! Sim. Além dos onze jogadores, se ferrou também o juíz, que levou pra casa uma bela touca, e nem com a própria mãe o menino teve compaixão. Aplicou o chapéu e chutou. "Golaço", ele gritou, com sua mãe sem entender nada, chamando nosso grande craque para acordar.

  • 2. à 01:03 AM em 04 set 2010, Bel.A escreveu:

    O problema é repetir esse chute com a mesma força do Roberto Carlos em seus tempos áureos. Ele era famoso, até um tempo atrás, pelos seus chutes potentes e que chegavam a uma velocidade incrível.

    Não é qualquer jogador que conseguiria colocar tanta força em um chute como ele, e pelo que eu entendi da notícia do site da 鶹ҳ, a força é importante para que a "equação" de certo e o gol se repita.

    Claro, isso que comprova que é possível repetir o feito, mas não é qualquer que pode repeti-lo. Apenas um "Roberto Carlos" da vida para fazê-lo. Ou seja, não importa quantas equações os europeus façam, continua sendo um feito incrível e uma grande demonstração de habilidade e força. =D

  • 3. à 05:14 PM em 05 set 2010, Amílcar Tavares escreveu:

    Belo artigo!

  • 4. à 05:04 AM em 07 set 2010, Egrgora escreveu:

    O futebol tem um pouco de ciência, é claro. Mas tentar explicar trajetórias de chutes é perda de tempo. É lógico que Roberto Carlos queria "dar efeito" na bola, para tirá-la da barreira. Qualquer garoto e pensa e faz isso no Brasil. A diferença é que tudo isso aconteceu num jogo entre seleções. Será que esses cientistas foram pagos para descobrir tudo isso?

  • 5. à 08:21 AM em 07 set 2010, Mauricio Ygaretua escreveu:

    Moro na europa e percebo que nao é só com o futebol que isso acontece... é a soberba, a arrogancia de quem acha que qualidade é propriedade do dito "1o. mundo", e quando ocorre fora dele, eles consideram que é por "acaso". Aguardem, o Brasil nao é só bom no Futebol !! é uma questao de tempo! (relativamente pouco).

  • 6. à 02:50 PM em 07 set 2010, Jairo Silva escreveu:

    Gosto de ler notícias na 鶹ҳ, pois geralmente são mais corretas e inteligentes do que o resto que se encontra em português na Internet. Mas é só falarem em futebol que tiveram que descambar para um nível rasteiro.

    Para encontrar um artigo decente sobre o assunto, procure no Google:
    Le coup franc magique de Roberto Carlos en 1997 expliqué par la science

    (Assim como o jornalista da 鶹ҳ, não consigo inserir links aqui.)

  • 7. à 05:26 PM em 07 set 2010, Manoel Jairo Santos escreveu:

    O conhecimento científico só acrescenta; não subtrai.Como nos diz tão bem Richard Feynman: " There are all kinds of interesting questions that come from a knoledge of science, which only adds to the excitement and mistery and awe ...It only adds. I don't understand how it subtracts"

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