Os mistérios do futebol científico
Fiquei surpreso ao ler a notícia de que um grupo de físicos franceses concluiu que o gol de falta marcado pelo lateral Roberto Carlos no empate de 1 a 1 da seleção brasileira com a França em 1997 não foi sem querer e portanto, pode ser repetido.
Lembram do gol? aquele em que a bola descreveu uma curva incrível, contornando a barreira pelo lado, e quando parecia que ia para fora, o efeito a levou direto para as redes deixando boquiabertos o goleiro francês Fabian Barthez e todo o mundo que assistia ao jogo.
Um gol sensacional de um craque que aperfeiçoou como poucos a arte de bater na bola.
Não sei quanto tempo destes 13 anos, os cientistas franceses dedicaram ao estudo da trajetória da bola de Roberto Carlos, debruçados em fórmulas e no desenvolvimento de modelos matemáticos que simulam os movimentos descritos pela redonda.
De todo modo, para mim parece que perderam seu tempo. Bastava perguntar para qualquer garoto que acompanha futebol no Brasil e a resposta viria imediatamente: "É claro que ele teve a intenção de fazer o que fez!"
Aliás, não é de hoje que a criatividade e o alto nível de aperfeiçoamento técnico do jogador brasileiro surpreende aqui na Europa.
Ou melhor dizendo ... não é de hoje que a Europa mostra desconhecer a capacidade dos jogadores sul-americanos em lidar com a bola como verdadeiros equilibristas.
Poucos comentaristas que ouvi aqui em Londres acharam que Maicon teve a intenção de fazer aquele gol sem ângulo contra a Coreia do Norte na Copa da África do Sul. A grande maioria acha que foi um fluke, como chamam o gol de sorte, sem querer.
Até hoje vários jornalistas esportivos britânicos acham que Ronaldinho Gaúcho errou o cruzamento na cobrança de falta que acabou encobrindo o goleiro David Seaman na vitória do Brasil por 2 a 1 sobre a Inglaterra na Copa de 2002.
Assim fazendo, consagram a jogada errada, o gol por acaso e deixam de apreciar a arte do Gaúcho e até de aprender com ela.
Se garotos ingleses passarem a acreditar que o gol foi por acaso nem sequer tentarão imitar o Ronaldinho desenvolvendo o controle das cobranças de falta.
Ficarão aperfeiçoando apenas o cruzamento careta e no final da contas quem sofre é o futebol inglês.
Qualquer lateral da seleção inglesa cruza tão bem ou melhor do que os laterais brasileiros. Mas nenhum dos últimos cinquenta laterais usados no English Team é capaz de ao menos imaginar a possibilidade de bater de curva na bola, com efeito, malícia e arte.
Nunca foi visto um lateral inglês fazer um gol como o de Nelinho contra a Itália na Copa de 78, com a bola descrevendo um zigue-zague à frente do goleiro Dino Zoff antes de entrar no ângulo.
Ou será que os físicos franceses conseguiriam explicar os super gols feitos pelo Josimar contra Irlanda e Polônia em 86, no México?
Ou o gol do Branco de falta em 94, o terceiro do Brasil contra a Holanda na vitória brasileira de 3 a 2 na Copa de 94, nos Estados Unidos?
Lembro de ter ouvido o Rivelino explicar a um repórter o segredo da batida de trivela que levava a bola a descrever uma curva acentuada: "É só bater com os três dedos de fora." e acentuando o sotaque paulista-italiano ... "de rôsca".
Quer explicação melhor? Depois de ouvir o Rivelino dá para pensar ... quem é que precisa de um físico para explicar um gol de curva?
dzԳáDzDeixe seu comentário
Oh, pode ser repetido. Claro! Já vi um montão de gols desse no futebol de várzea, meu amigo. Certa vez o Tico-Tico, menino que vevi aqui na Vila, fez um gol bem mais bonito. A diferença é que antes de soltar o canhonaço, ele chapelou treze pessoas... Que estilo! Sim. Além dos onze jogadores, se ferrou também o juíz, que levou pra casa uma bela touca, e nem com a própria mãe o menino teve compaixão. Aplicou o chapéu e chutou. "Golaço", ele gritou, com sua mãe sem entender nada, chamando nosso grande craque para acordar.
O problema é repetir esse chute com a mesma força do Roberto Carlos em seus tempos áureos. Ele era famoso, até um tempo atrás, pelos seus chutes potentes e que chegavam a uma velocidade incrível.
Não é qualquer jogador que conseguiria colocar tanta força em um chute como ele, e pelo que eu entendi da notícia do site da 鶹ҳ, a força é importante para que a "equação" de certo e o gol se repita.
Claro, isso que comprova que é possível repetir o feito, mas não é qualquer que pode repeti-lo. Apenas um "Roberto Carlos" da vida para fazê-lo. Ou seja, não importa quantas equações os europeus façam, continua sendo um feito incrível e uma grande demonstração de habilidade e força. =D
Belo artigo!
O futebol tem um pouco de ciência, é claro. Mas tentar explicar trajetórias de chutes é perda de tempo. É lógico que Roberto Carlos queria "dar efeito" na bola, para tirá-la da barreira. Qualquer garoto e pensa e faz isso no Brasil. A diferença é que tudo isso aconteceu num jogo entre seleções. Será que esses cientistas foram pagos para descobrir tudo isso?
Moro na europa e percebo que nao é só com o futebol que isso acontece... é a soberba, a arrogancia de quem acha que qualidade é propriedade do dito "1o. mundo", e quando ocorre fora dele, eles consideram que é por "acaso". Aguardem, o Brasil nao é só bom no Futebol !! é uma questao de tempo! (relativamente pouco).
Gosto de ler notícias na 鶹ҳ, pois geralmente são mais corretas e inteligentes do que o resto que se encontra em português na Internet. Mas é só falarem em futebol que tiveram que descambar para um nível rasteiro.
Para encontrar um artigo decente sobre o assunto, procure no Google:
Le coup franc magique de Roberto Carlos en 1997 expliqué par la science
(Assim como o jornalista da 鶹ҳ, não consigo inserir links aqui.)
O conhecimento científico só acrescenta; não subtrai.Como nos diz tão bem Richard Feynman: " There are all kinds of interesting questions that come from a knoledge of science, which only adds to the excitement and mistery and awe ...It only adds. I don't understand how it subtracts"